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Tendência mundial, caminhões de comida estão chegando ao Rio Primeiro, os chamados ‘food trucks’ estacionam em eventos, e em breve nas ruas

fast truck

JOANA DALE E MÁRCIA ABOS Publicado:13/07/14 – 7h00 Atualizado:13/07/14 – 8h20 O Globo S.A

RIO E SÃO PAULO – A gastronomia de rua é um clássico carioca. Dos doces vendidos em tabuleiros pelas mulheres retratadas por Jean Baptiste Debret nos arredores do Paço Imperial, séculos atrás, ao podrão turbinado com milho, ervilha, passas, batata palha e ovo de codorna em carrocinhas da Lapa, há décadas, quitutes degustados na calçada estão arraigados na rotina da cidade. Agora, o cardápio urbano está prestes a ganhar um toque gourmet: no rastro do recente sucesso de São Paulo, o Rio quer botar os food trucks na rua. E está em vias de dar sinal verde à circulação de caminhões, furgões, trailers e vans que preparam comida de qualidade na caçamba.

 O projeto de lei 808/2014, que prevê a “legalização e a organização do comércio de alimentos em logradouros públicos’’, está tramitando em comissões da Câmara Municipal. Elaborada pelo vereador Marcelo Queiroz (PP), a ideia foi alinhada com representantes do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes (SindRio). Otimistas, renomados chefs estão investindo em cozinhas itinerantes, movimento que acompanha uma tendência já firmada em metrópoles do mundo todo, com destaque para as dos Estados Unidos (leia mais na página 28).

— O food truck tem tudo a ver com o perfil do Rio, uma cidade voltada para a rua — acredita Pedro de Lamare, presidente do SindRio. — A ideia é ocupar lugares estratégicos com uma gastronomia acessível. Não é para competir com bares e restaurantes regulares, é para somar.

Lagoa Rodrigo de Freitas, Aterro do Flamengo e Praça Paris são alguns dos possíveis pontos onde serão estabelecidas vagas específicas para os furgões pilotados por chefs. A Zona Portuária, por sua vez, pode vir a servir de estacionamento fixo e sediar um food park oficial.

— Estamos obtendo parecer favorável, e a previsão é que, se aprovada, a lei entre em vigor até janeiro de 2015 — conta Marcelo Queiroz. — Além de contemplar cariocas no dia a dia, os food trucks são ótimos para grandes eventos. Na Jornada Mundial da Juventude, por exemplo, sofremos com falta de opção. Temos urgência: as Olimpíadas estão aí.

O conjunto de normas é uma adaptação da lei paulistana, que entrou em vigor em maio, para a realidade do Rio. Uma das diferenças é que, em solo carioca, seria vetada a permissão de mais de uma concessão à mesma pessoa jurídica, evitando assim a formação de redes itinerantes.

— O food truck é uma opção mais acessível a todos, inclusive para o chef que não tem grana para abrir o próprio negócio, como eu, nesse Rio de preços impraticáveis — diz Checho Gonzales, ex-Zazá Bistrô.

Destino temporário: evento e shopping

Enquanto a lei não vem, a caravana culinária começa a se fazer notar em eventos fechados. É o caso da vespa Ape dos anos 50 adaptada pelo Venga, estacionada no Parque da Bola, no Jockey Club, na Gávea, desde o início da Copa do Mundo. A filial itinerante do bar de tapas tem menu enxuto: croquetas de jamón, hamburguesas de atum, patatas bravas e churros de chocolate.

Findo o Mundial, o veículo retrô, comandado pelos sócios Fernando e Roberto Kaplan e Daniel Oelsner, tem planos de estacionar na ArtRio.

— No dia que sair a lei vamos botar o truck para circular por toda a cidade. Espero que seja em breve — torce Fernando.

Vizinho do food truck do Venga no Parque da Bola, o trailer paulistano Los Mendozitos chegou ao Rio para participar do evento de futebol. Após a Copa, a adega ambulante que vende rótulos de pequenos produtores de Mendoza, na Argentina, vai passar três meses no primeiro piso do Shopping Leblon. É o quarto trailer do trio Ariel Kogan, Danilo Janjacomo e André Fischer — os outros três estão em pontos estratégicos da capital paulista: na loja Adriana Barra, nos Jardins, na feirinha da Praça Benedito Calixto e no Butantã Food Park. Tanto na lei de lá quanto no projeto de cá, bebida alcoólica não pode ser comercializada em vias públicas.

— Recebemos convites de outros dois shoppings e de uma feirinha. A gastronomia de rua está cada vez mais forte no Rio — opina André, que, em dias de jogos do Brasil, vendeu, em média, 150 garrafas por tarde, a preços entre R$ 55 e R$ 79.

A advogada Maria Isabel Matos, de 30 anos, virou fã dos food trucks durante o Mundial. Comprava tacinhas no Los Mendozitos e comidinhas no Venga:

— Tinha ideia de comida de rua ser sinônimo de podrão, mas revi os meus conceitos. Além de tudo, o caminhãozinho vermelho e o trailer azul são duas fofuras. Estou me sentindo em Nova York.

Os restaurantes sobre rodas foram customizados em São Paulo. Atualmente, há cinco oficinas na capital paulista vivendo de adaptar furgões, caminhões e vans. Os empresários cariocas Rodrigo Guimerà e Ruslan Alastair transformam um furgão típico de entrega de correspondências na Nhac! Máquina Orgânica. Escolheram a oficina Bumerangue, uma das tops de São Paulo.

— Queremos participar do circuito de eventos orgânicos e criar pratos elaborados com a xepa — conta Rodrigo.

No momento, está vedada qualquer concessão de novas matrículas em feiras livres do Centro à Barra. Só há espaço para novas barracas ou Kombis em Jacarepaguá, Campo Grande e Santa Cruz. O casal Gabriela Heringer e Leo Nicolay esbarrou nesse cenário quando tentou botar a flower truck Studio Lily na rua.

— Estamos restritos a eventos, mas loucos para circular e deixar as ruas mais floridas — diz Gabriela, que participa mensalmente do Cluster, em Botafogo.

Em São Paulo, a febre dos food trucks já mostrava força antes mesmo de a prefeitura sancionar a lei que autoriza e regulamenta a gastronomia de rua. O sucesso de feiras gastronômicas impulsionou a tendência a princípio restrita a eventos e locais fechados e fortaleceu as negociações de chefscomo Alex Atala (D.O.M.) e Rodrigo Oliveira (Mocotó) com vereadores para a criação da nova legislação na capital paulista.

Com uma fila de espera de dois a três meses, Bob Iser, dono de uma das mais concorridas oficinas especializadas, conta que desde o final do ano passado produz até seis trucks por mês. Todos os dias, entrega sete orçamentos. Os preços da customização variam de R$ 70 mil a R$ 300 mil. O primeiro truck que saiu da oficina foi criado há dois anos, encomenda do bar Astor.

— O céu é o limite. Vamos superar os pais dos food trucks, os Estados Unidos — acredita Bob.

Em dezembro do ano passado, duas semanas antes da aprovação da lei pela Câmara Municipal, os chefs Márcio Silva e Jorge Gonzalez começaram a circular com o Buzina Food Truck, estacionando em locais privados e eventos. Com preços que variam de R$ 5 a R$ 20, tem como especialidade hambúrgueres gourmet e costumam rodar nas zonas Oeste e Sul de São Paulo. Em um mês, planejam aumentar a frota para três furgões — e um deles deve pegar a Via Dutra em direção ao Rio de Janeiro.

Em viagens de férias com a família aos Estados Unidos, o engenheiro Maurício Ghigonetto, de 43 anos, costumava buscar nas cidades por onde passava os melhores food trucks. Com a expectativa de que um dia a tendência chegaria, enfim, a São Paulo, a família Ghigonetto descobriu o Buzina.

— Sempre achei que era algo que deveria acontecer em São Paulo: comida de alto nível na rua, com uma boa relação custo-benefício — comemora Maurício, que já experimentou nos trucks paulistanos temakis e comida mexicana.

Os food trucks oferecem em São Paulo refeições sempre abaixo de R$ 30. Angariam clientes fiéis que costumam acompanhar os itinerários destes restaurantes sobre rodas nas redes sociais. O crescimento do mercado resultou na criação de food parks como o Pátio Gastronômico da Casa Verde, na Zona Norte, a pracinha da Rua Oscar Freire, nos Jardins, e o Butantã Food Park, na Zona Oeste — este último aberto todos os dias da semana.

Com caminhões, trailers e barracas, o estacionamento de 1.400 metros quadrados no Butantã é uma enorme praça de alimentação ao ar livre, com mesas comunitárias onde os comensais degustam fish and chips, massas, costelinha ao molho barbecue, temakis e hambúrgueres, bebericando vinho ou cervejas artesanais. Nos fins de semana e feriados, o Butantã Food Park recebe, em média, cinco mil pessoas por dia.

Temaki, massas, tacos…

Um dos trucks que costumam estacionar no Butantã é o Temaki Point, dochef Paulo Enrico Sanches Gomes. Serve temakis e yakissobas a preços que variam de R$ 11,90 a R$ 13,90. O sucesso o levou a criar um espaço físico para a venda de comida japonesa numa casa de shows, o Credicard Hall.

— No começo, as pessoas ficavam com o pé atrás, mas fomos ganhando credibilidade — conta Gomes.

Amigos de infância, Raphael Corrêa e Juliana Moreira abandonaram carreiras de sucesso para transformar seu hobby em negócio próprio. Segredo da avó de Raphael, a receita de uma massa de pizza crocante com coberturas clássicas e criativas é o hit do cardápio do food truck Massa na Caveira, que costuma estacionar nas zonas Oeste, Sul e Norte de São Paulo há três meses. A dupla transformou uma Kombi de 1974 em sua cozinha e tem planos de investir num segundo veículo.

— Já pedimos alvará para um novo ponto. Nossa ideia é manter um truckcirculando em eventos e locais privados, e outro estacionado em Santana, bairro da Zona Norte — diz Corrêa, explicando que não tem conseguido atender a todos os convites que recebe para levar o Massa na Caveira a eventos.

O barista Alex Pereira decidiu investir na restauração e adaptação de uma Kombi, também de 1974, para criar o Bio Barista, uma cafeteria ambulante que serve desde dezembro do ano passado bebidas clássicas à base de café a preços que variam de R$ 4,50 a R$ 12.

— O conjunto da obra faz sucesso: vender na rua, numa Kombi antiga, um café gourmet orgânico feito com 100% de grãos arábica — acredita Pereira.

Dono de um restaurante fast food no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo, o mexicano Arturo Herrera colocou na rua o truck La Buena Station, há um ano. Inspirado nas taquerias mexicanas, serve tacos, burritos, nachos e quesadillas. Os preços variam de R$ 6 a R$ 18.

— A ideia é oferecer na rua a mesma qualidade da comida do restaurante — explica Herrera.

Assim como outros chefs de rua, Herrera recebeu com entusiasmo a recente aprovação da lei, mas tem críticas sobre a regulamentação que prevê pontos fixos para a venda de alimentos nas ruas da capital paulista. Eles podem escolher seus pontos entre 700 locais espalhados por todas as regiões de São Paulo, dos quais mais de 200 serão oferecidos a food trucks. Os demais pontos serão ocupados por carrinhos e barraquinhas desmontáveis.

Ao restringir os locais de atuação a pontos fixos na cidade, os chefs alegam que a prefeitura os transforma “em quiosques sobre rodas”. Muitos planejam solicitar seu ponto, mas não querem deixar de rodar, ainda que para isso tenham que estacionar suas cozinhas em locais privados e em eventos gastronômicos.

— Vamos pleitear um ponto para ficar duas ou três vezes na semana. Mas continuaremos a circular e a atender em locais privados para não desrespeitar a lei — promete Herrera.

É um tipo de debate que, em breve, chegará ao Rio.

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